A origem dos Santos e do Pão por Deus

O Dia de Todos os Santos é celebrado no Ocidente para homenagear todos os santos e mártires cristãos, conhecidos ou desconhecidos.

A sua origem remonta aos primeiros séculos do Cristianismo, quando a Igreja começou a honrar mártires que deram suas vidas pela fé.

Com o tempo, essa comemoração foi ampliada para incluir todos os santos, reconhecidos oficialmente ou não, especialmente aqueles que não possuem uma data própria no calendário litúrgico.

A festa começou oficialmente quando o Papa Bonifácio IV, talvez a 13 de maio, do ano 609 d.C., dedicou o Panteão de Roma à Virgem Maria e a todos os mártires.

Mais tarde, no século VIII, o Papa Gregório III designou 1º de novembro como o dia para honrar os santos.

A data também simbolizava uma tentativa de cristianizar celebrações pagãs de final de outono, como o Samhain celta, trazendo um foco espiritual para a época.

No Ocidente, o Dia de Todos os Santos é celebrado especialmente na Igreja Católica e em algumas Igrejas Protestantes, sendo um dia de reflexão e memória dos santos, com missas especiais e visitas aos cemitérios em muitos países europeus, como Portugal, França e Espanha.

Os países nórdicos europeus situam este dia no sábado compreendido entre o fim de outubro e princípio de novembro, sendo assim uma data móvel.

A título de exemplo, na Galiza o peditório tem o nome de migalho (migallo) e em Tenerife tem o nome de “Pan por Dios” ou “Los Santitos”.

O Terramoto de 1755, pintura a óleo, João Glama (1756-1792), Museu Nacional de Arte Antiga

 

“Pão por Deus” ganha relevância após o terramoto de 1755

A tradição portuguesa do Pão por Deus tem raízes tanto religiosas quanto culturais e consiste em oferecer ou pedir pães, broas e outros alimentos simples.

A origem desse costume é multifacetada, mas acredita-se que seja uma prática de solidariedade que ganhou relevância após o terremoto de Lisboa de 1755, quando as famílias afetadas pediam pão, dizendo “Pão por Deus” para suas necessidades básicas.

 

Um momento de união e partilha

O “Pão por Deus” é visto como um momento de união comunitária e partilha.

Nas zonas rurais de Portugal, especialmente no norte e no centro, as crianças saíam de casa em casa pedindo pão, frutos secos ou doces em sacos ou sacolas, como forma de celebração e memória dos entes falecidos.

Hoje, elas pedem não apenas pão, mas também broas, bolinhos e guloseimas.

 

Broas como sinal de fertilidade e fartura

As broas e os bolinhos oferecidos no Pão por Deus variam conforme a região, mas costumam ser receitas de bolos caseiros simples, muitas vezes à base de milho ou batata-doce, representando a fertilidade e a fartura da terra.

Esses alimentos simbolizam a colheita e a partilha, elementos típicos de festivais de outono em várias culturas.

Assim, a tradição do Pão por Deus se mistura com práticas cristãs e com antigas tradições de festivais de colheita, sobrevivendo como uma forma de celebração de identidade comunitária e de solidariedade em Portugal.

 

[Imagens: MNAA, Agência Ecclesia]

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