AS IDAS INVERNIAS NO
PASSADO, NO POVOADO
O vento o corpo regelava, se mui arrepiava
No cabeço, não esqueço, a Pena do Carril
Miragem, uma paisagem, brancura da geada
Prateava, camuflava segredos de penedos mil.
Esse vento rangia o velho moinho o Valério
Altaneiro, ali implantado emergia sozinho
Vergado numa sinfonia se tal um mistério
Veleiro de sentimento ou sentido carinho.
O mato que tapeteava enleado às aroeiras
Albergava javalis, perdizes e bravos coelhos
Sob vigilância, ganância de raposas matreiras
Em tal perfeito “reino” não admitiam conselhos….
Encosta abaixo se ondulava extenso vinhedo
Encantava os choupais e salgueirais despidos
Descer ao açude uma atitude de receio e medo
Com ecos de negros corvos lá no alto aos gritos.
O rio tal qual o cio sentia e subia numa maré
Bastava uma enxurrada p’ra moer a azenha
Teria que a mó, sem dó, ser picada p’lo Ti Zé
Enquanto desde a madrugada ardia seca lenha.
O Sol se abeirava da Serra de Montejunto
Como que à Terra-Pena do Carril dizer adeus
Se jamais acreditava eu existir outro mundo…
Senão a crença, ser pertença do Reino dos Céus.
Agora, a aurora, surgia ao nascer do novo dia
Rompia sobre copas das azinheiras da Penalva
Todos aceitariam “sem lume” o negrume a invernia
Que mesmo às escuras Deus perdoaria e salva.
José Penalva
[Imagem: montejunto.pt]