“Há uma gota de água que acabou por nos acordar a todos”
Manuela Dâmaso, Professora na Escola Secundária Dr. Augusto César da Silva Ferreira (ESACSF) e porta-voz dos professores ali presentes, respondeu assim à pergunta do Região de Rio Maior (RRM) sobre o motivo desta contestação.
E continuou: “(…) esperamos que os Sindicatos se unam para nos representar (…)”. Nesta que foi uma manifestação espontânea, decidida ontem na sala de professores, e à qual os alunos decidiram juntar-se, num acontecimento quase inédito.
Segundo a porta-voz, “(…) são várias décadas de trabalho, com desrespeito da sociedade de alguns alunos e algumas famílias, mas com esses nós conseguimos lidar (…) o desrespeito do Governo pela nossa posição é que é lamentável”.
Em causa está a evolução na carreira profissional e as remunerações, onde nos 10 escalões remuneratórios que constituem esta carreira de Professor, hoje serão raros os que conseguirão atingir esse topo.
“Só chega ao 10º escalão aquele que começou a trabalhar aos 18 anos, com formação constante, senão não consegue… há Professores que se irão aposentar sem nunca lá chegar (…)”, disse ainda.
Á pergunta do RRM sobre o que teria de mudar amanhã para que deixem de estar aqui na rua, a resposta foi dada com tempo verbal diferente: (…) ontem, deveria ter mudado os escalões que estruturam a carreira. Para chegar ao 5º e ao 7º escalão tem de haver vagas do Governo. Professores com 30 anos de serviço ganham 1400 euros e nunca vão chegar ao 10º escalão.”
Esta é uma luta pelos mais novos e pelos alunos que querem ser professores, dando o exemplo de “(…) um aluno que teve nota 20 a Literatura e quer ser professor de Português, que exemplo é que lhe vou dar (…)”, e aqui emocionou-se, “(…) temos alunos que vão pertencer ao quadro de mérito e os olhos brilham quando dizem que querem ser Professores. E nós, vamos lhe dar esta carreira?”.
Estes professores referem-se aos vencimentos como “uma vergonha”, dando o exemplo do caso dos Juízes Conselheiros que viram os seus salários aumentados em 700 euros, em 2019, no mês de agosto, e com a mão de Marcelo Rebelo de Sousa a homologar este aumento, mas a alertar de imediato que as carreiras não estavam a ter tratamento igual e “(…) a que pior tratamento tem tido é a dos Professores, que são uma peça chave na vida de toda a gente.”, disse Manuela Dâmaso.
Tempo ainda de se referir à “municipalização total da educação” como um sinal de preocupação na resolução de tantos outros problemas do setor, voltando o foco à importância destes profissionais na formação dos cidadãos e da sociedade: “(…) desde muito cedo, com a família, ajudamos gerações e gerações a serem formados: formamos os cientistas e os artistas que estão a ser aplaudidos lá fora e cá dentro, que ganham bolsas de estudo e de mérito.”.
Às recentes declarações do Ministro João Costa sobre a progressão nas carreiras, responde que “(…) estamos informados, lemos, estudamos retórica e conseguimos ler nas entrelinhas e percebemos que o nosso futuro não augura nada de bom.”.
E se professores decidiram que não podiam cruzar os braços, do lado dos alunos António Coito, presidente da Associação de Estudantes da ESACSF declara que : (…) associamo-nos aos professores porque os jovens tem voz, espírito crítico, tomam consciência de si e dos outros e agem (…) os professores estão a trabalhar para a nossa formação e para nos prepararem para o futuro, que assim é incerto, e onde seguir a carreira de professor é difícil tendo em conta as condições que lhes são dadas, numa profissão que assim não é aliciante.”
Foi a pensar no seu futuro e no da comunidade que os alunos decidiram estar ali também, porque (…) a educação é a base das sociedades e os professores a lutar, estão a ensinar e a passar valores.”, concluiu.