Alunas do 11º ano da Escola Secundária vão à Mostra de Ciência, no Porto, e trazem o prémio especial.
As alunas do curso de Ciências e Tecnologias, do 11º ano, Tânia Gonçalves, Beatriz Ferreira e Mariana Vitorino, ganharam o prémio especial “Raquel Seruca”, na Mostra Nacional de Ciência realizada na Alfândega do Porto, entre os dias 23 e 25 de maio.
Conhecer a reação dos bolores das habitações a várias soluções químicas, foi o objetivo deste projeto científico denominado Attack on Mold.
Testadas diversas soluções químicas contra os fungos
Para diversas soluções químicas foram identificados os valores de pH, em cada uma dessas condições experimentais: para o sumo de limão, num antifúngico de compra de uma marca, do Sulfato de Cobre + Carbonato de Cálcio, Bicarbonato de Sódio, vinagre de limpeza, vinagre de vinho branco, chá de gengibre e etanol (96% vol.).
Utilizou-se a técnica microbiológica dos antibiogramas e o meio de cultura PDA (Potato Dextrose Agar) seletivo para o crescimento de fungos filamentosos.
Nesta investigação que fizeram, identificaram nas habitações fungos do tipo Cladosporium spp que são considerados aero-alérgenos e causam graves doenças alérgicas do trato respiratório, bem como lesões intrabrônquicas.
Provocam ainda patologias como as infeções superficiais da pele e dos tecidos moles e incluem septicemia disseminada com elevada mortalidade.
É preciso eliminar estes fungos nas nossas casas
A procura por formas de eliminar estes fungos é fundamental pois podem causar doenças respiratórias já que os fungos libertam esporos durante a sua reprodução, que ao serem inalados podem causar por exemplo a histoplasmose.
Os bolores também danificam alguns materiais como o gesso, a madeira e o papel de parede.
São os ambientes húmidos e mal ventilados, que são características bastante regulares em casas portuguesas, e na nossa região em especial, que são favoráveis ao desenvolvimento destes fungos.
O trabalho de investigação foi coordenado pela professora Paula Maria, docente de Biologia e Geologia e uma das dinamizadoras do Clube Ciência Viva – Recursos M@iores, na Escola Secundária de Rio Maior – Dr. Augusto César da Silva Ferreira.
Nesta Mostra Nacional de Ciência, Paula Maria foi agraciada com o prémio Professor.
As alunas Tânia, Beatriz e Mariana com a professora Paula Maria.
Paula Maria a receber também a sua distinção, o Prémio “Professor”
A colaboração de todos é essencial
A Escola pagou os custos de deslocação da professora coordenadora dos projetos e das alunas para o Porto e a Câmara Municipal disponibilizou transporte para o comboio (Santarém), isto para a ida e para a vinda.
A Professora Paula Maria refere que “é de congratular a colaboração de todos os agentes externos à escola, nomeadamente os encarregados de educação que apoiaram as educandas e o empenho da direção da escola.
Ainda nas suas declarações: “Este projeto permitiu avaliar os efeitos ecotoxicológicos da amitriptilina (antidepressivo) em Daphnia magna. Estaremos todos de acordo que a formação científica deve ser considerada, ao longo de todo o percurso educativo, como uma valiosa ferramenta em prol de uma cidadania crítica e participativa na sociedade do conhecimento, importante processo de preparação para a literacia científica”.
Paula Maria lembrou ainda que outro projeto, Depressive Waters, desenvolvido pelas alunas Diana Carvalho, Lara Lopes e Lorena Araújo, da mesma turma (11ºC), da Escola Secundária de Rio Maior, foi também selecionado para estar presente nesta “Mostra Nacional de Ciência”.
Aqui as alunas no espaço de exposição do seu Projeto na Mostra
A entrevista a Tânia Gonçalves, uma das alunas envolvidas neste Projeto
Região de Rio Maior (RRM) falou com Tânia Gonçalves (TG), uma das alunas envolvidas neste Projeto e recolheu o “seu olhar”:
RRM: Resolveram fazer uma investigação sobre fungos, porquê? Temos problemas na nossa região com isso?
TG: Sim. A zona do Ribatejo é muito húmida e é normal. As casas de banho, os quartos, as garagens… desenvolvem muitos fungos. Podem prejudicar a saúde, porque os respiramos [inalamos] e causar várias doenças respiratórias.
Ajudando a resolver este problema podemos ter melhor qualidade de vida.
RRM: Foram para a rua, fizeram trabalho de campo?
TG: Visitamos 3 casas diferentes, recolhemos os fungos, fizemos várias misturas e realizamos os trabalhos de laboratório.
RRM: A existência destes fungos está ligada às doenças respiratórias? Concluíram isso?
TG: Registamos os fungos e o seu tipo e não é pela sua simples existência que as pessoas têm doenças respiratórias, mas influencia muito e poderá haver casos, que pelo tipo de fungos encontrados, é conhecida a sua influência.
RRM: Qual foi o impacto do vosso trabalho junto da Comunidade Científica e Escolar que encontraram no Porto?
TG: Foi muito importante para nós. O trabalho foi reconhecido por cientistas importantes, professores e outros alunos, agora está associado ao prestígio do Prémio Raquel Seruca e foi até reconhecido que poderia ser explorado para fins económicos e como solução para este problema das habitações.
RRM: Para um produto comercial viável, o que experimentaram e qual seria a solução a apresentar ao mercado?
TG: Fizemos soluções no laboratório de vários produtos, experimentamos até aqueles produtos que se fazem em casa, de fórmula “de boca em boca” e concluímos que envolver o vinagre de limpeza, que não prejudica a saúde, é barato e tem muito bons resultados poderia ser uma solução. Um produto biológico e amigo do ambiente para o mercado.
RRM: O que trazem vocês desta Mostra no Porto? Foi importante para a vossa “carreira”?
TG: Foi muito. Ficamos todas muito motivadas, desde o início do Projeto, acabamos por ser selecionadas para ir à Mostra no Porto e… ganhamos o Prémio!
A professora Paula Maria acompanhou-nos desde o início e foi crucial para o nosso sucesso o que foi para nós também muito importante [a professora Paula Maria foi distinguida com o Prémio “Professor”].
Para além do reconhecimento do nosso trabalho isto conta para a nossa candidatura à Universidade. Lá vamos referir o que alcançamos aqui.
RRM: O que gostarias de ser quando “fosses grande”?
TG: Vou-me inscrever em Ciências Forenses, na Universidade, e o meu sonho é ser Médica Legista.
RRM: Uma curiosidade… entre os vinagres que encontramos no supermercado, de vinho, de cidra, de limpeza…, há algum que seja melhor neste combate aos fungos?
TG: Não há grandes diferenças entre um vinagre de cidra e o de vinho, mas talvez o vinagre de limpeza seja melhor porque “é mais químico” e apresentou melhor desempenho e mais duradouro.
RRM: Fizeram uma investigação, tiraram conclusões e apresentaram resultados, qual é o vosso conselho para as pessoas lá em casa que têm este tipo de problemas (bolores nas suas casas)?
TG: Quando surgem os fungos nas paredes devem lavar logo com uma solução de vinagre normal ou de limpeza. Quando fazem pinturas devem de incorporar na tinta um anti-fúngico.
Isto foram soluções testadas e produziram efeitos na inibição dos fungos.
Evita limpezas futuras e melhora a qualidade de vida das pessoas.
Região de Rio Maior agradece à professora Paula Maria e à aluna Tânia Gonçalves a partilha deste trabalho e deseja as maiores felicidades a todas.
O Prémio Raquel Seruca
Em 2009, Raquel Seruca recebeu a insígnia de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique pelo então Presidente da República, Cavaco Silva, pela excelência da sua investigação na área do cancro do estômago. Foi ainda agraciada pela Câmara do Porto, em 2014, com a “Medalha de Ouro de Mérito Científico”.