Pelas 22h30, do dia 24 de Abril de 1945, saiu de Rio Maior o primeiro comboio carregado com lenhite a caminho do Vale de Santarém. Faz hoje 80 anos. Na imagem acima pode ver-se um dos comboios que circulou nesta linha.
A linhite, é um carvão fóssil, em que se reconhecem ainda restos de vegetais, com teor de carbono fixo inferior ao da hulha, de cor castanha ou negra, que arde com muito fumo. Também conhecido pelo “carvão castanho” saiu das galerias da Mina do Espadanal, em Rio Maior, através do “Cais da Mina” que lhe era anexo, e que é hoje o Pavilhão Multiusos onde acontecem, entre outros, as Feira das Tasquinhas e a Frimor.
Previamente à data que se assinala hoje, já tinha sido realizado um carregamento de 250 toneladas de madeira dos pinhais do Concelho, para testes.
A partir dali, passaram a sair diariamente de Rio Maior dois comboios, um com lenhite e outro com lenha, que tinha um cais de carga, também, a sul da Vila da Marmeleira.
A história…
A 19 de Agosto de 1907, o Governo decretou a sua construção, indo a Lisboa, em 1911, uma delegação de representantes dos Concelhos de Rio Maior, Cartaxo e Caldas da Rainha e que foi recebida pelo Ministro do Fomento, Manuel de Brito Camacho, e este prometeu desenvolver todos os esforços para a construção do ramal do caminho de ferro que servia Setil (Cartaxo) – Rio Maior – Peniche.
Em 1920 o Governo abre concurso público para a construção da linha férrea de Rio Maior, mas não apareceram concorrentes e a linha não sai do papel.
Em 1942 a Comissão Reguladora do Comércio do Carvão é autorizada a contrair um empréstimo bancário de 18 mil contos – cerca de 130 mil euros (num valor corrigido para hoje) para fazer face às despesas com a construção do caminho-de-ferro mineiro.
Cai Peniche de um lado, cresce do outro até ao Vale de Santarém
A linha é, finalmente, construída em 1945, mas no traçado Rio Maior – Vale de Santarém, crescendo assim para além do Setil (Cartaxo), mas sendo cortado o troço Rio Maior – Caldas da Rainha – Peniche, para transportar a lenhite extraída na Mina do Espadanal e que a Grande Guerra exigia.
Pelas 22.30 horas, do dia 24 de abril de 1945, saiu de Rio Maior o primeiro comboio carregado com lenhite, embora antes já tivesse saído um carregamento de 250 toneladas de madeira de pinho.
A partir daí, de Rio Maior saíam dois comboios diários em direção ao Vale de Santarém, um com lenhite e outro com madeira.
O imponente cais ferroviário da mina localizava-se no local em que atualmente está construído o pavilhão multiusos de Rio Maior.
Em 1965, com o encerramento da Mina do Espadanal, terminam a operação do comboio vindo a linha a ser desmantelada em 1970.
Integrada no Plano de Ação para o Oeste e Lezíria do Tejo, com alcance até 2014, estava prevista para 2015 uma nova linha ferroviária ligando Caldas da Rainha (Linha do Oeste), Rio Maior (futura ligação Lisboa-Porto em alta velocidade), e Santarém (Linha do Norte, ligando em Setil), orçamentada em 37 M€. Este projeto foi suspenso em 2010.
O assunto voltou à Agenda Política nestes últimos tempos com os Municípios do Oeste a aprovarem uma Moção de defesa de uma linha entre Santarém e Peniche, a ligar a Linha do Norte à Linha do Oeste, via Rio Maior e Caldas da Rainha.
A CP 135 (ver imagem acima), em exposição no Museu Ferroviário do Entroncamento, foi a última locomotiva a sair de Rio Maior… para não mais voltar. Por enquanto…
[Imagens: CP, RRM]