A Europa só dá dinheiro para o comboio de Alta Velocidade se a linha tiver a bitola europeia

A Comissão Europeia (CE) quer que Portugal construa a linha de Alta Velocidade com a bitola europeia, 23 centímetros mais estreita do que a bitola ibérica prevista e atualmente utilizada na rede ferroviária portuguesa.

 

Portugal tem de se coordenar com Espanha e mudar a bitola 

As linhas de ligação Lisboa/Madrid, Porto/Lisboa e Porto/Vigo podem usar a bitola antiga, mas o projeto precisará de alterações ou os troços das linhas deverão ser remodelados até 2030, se entrarem em serviço antes disso.

Só assim poderão beneficiar do co-financiamento europeu destinado às ligações do Corredor Atlântico, um dos nove corredores de transportes da União Europeia (UE).

Com esta medida, pretende-se uma “bitola standard europeia” na construção de novas linhas férreas.

As linhas da rede principal que ainda não estiverem construídas em meados deste ano, 2024, como a futura ponte sobre o Tejo, de Lisboa para o Poceirão, ou a futura linha de alta velocidade do Poceirão para Évora, terão de cumprir esta nova bitola.

Carlo Secchi, da Comissão Europeia e coordenador do Corredor Atlântico, também afirmou à televisão CNN e aos meios noticiosos da própria CE que esta nova exigência será contemplada em regulamento. Ele vai pedir a Portugal um plano de migração das linhas internacionais para a nova bitola, em coordenação com Espanha.

 

O que é a bitola e qual temos? 

Uma bitola ferroviária é a distância entre os carris onde passa o comboio.

Em 1844, Espanha institui uma bitola ferroviária de seis pés castelhanos (1672 mm), enquanto Portugal vai para uma bitola de 1435 mm e mais tarde passa a 5 pés portugueses (1664 mm).

Já em 1955, procedeu-se à uniformização dos standards dos dois países, numa bitola comum de 1668 mm, criando-se a bitola ibérica.

A Europa utiliza uma bitola de 1435 mm.

Portugal e Espanha ficam assim isolados do resto da rede ferroviária europeia o que constitui uma barreira nas comunicações ferroviárias entre a Península Ibérica e os demais países europeus.

 

A culpa é dos espanhóis 

Várias razões técnicas e políticas apontam para este “fenómeno”, mas a decisão de Espanha de optar por medidas defensivas em relação a França parece ser a mais plausível.

Em 1844, após as invasões francesas da Península Ibérica, a Espanha decidiu construir uma rede ferroviária com linhas de bitola diferente da bitola francesa, impedindo assim que os comboios circulassem entre os dois países e evitando deslocações fáceis das tropas invasoras.

Até ao início dos anos 2000 os passageiros de Espanha para França tinham de trocar de comboio nas estações fronteiriças.

Desde então, construíram-se linhas de alta velocidade com bitola europeia e colocaram-se em serviço comboios que ajustam automaticamente a distância das suas rodas para caberem em ambas as bitolas.

Mas, esta solução é mais cara, tem uma maior manutenção e problemas técnicos, e demora tempo de viagem porque o comboio tem de parar e adapta-se enquanto parado.

A linha de alta velocidade ferroviária, incluindo a passagem por Rio Maior, integra a segunda fase do projeto da Nova Linha Ferroviária de Alta Velocidade entre Porto e Lisboa.

Esta segunda fase corresponde ao troço entre Soure e Carregado, que segundo a programação, tem início de obra prevista entre 2026 e 2030.

 

[Imagem: wikipédia)

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