Algo virá por bem – José Penalva

Em Dia de Reis, lembrando o Portugal que foi e é, sempre com a esperança que “Algo virá por bem”, deixamos-lhe um poema de José Penalva:
ALGO VIRÁ POR BEM
Regressei… aquele cabeço
ao local que conheço
nem pensei
o que encontrei
tudo devastado
nesse “condado”
onde fui feliz
quem o diz
terá razão
ser um aldeão
que ali nasceu
e já faleceu.
Regressei…
nem pensei
ver tudo escuro
ser outro mundo
casario degradado
tudo farruscado
casas abandonadas
delas ninguém se serve
não se vê um almocreve
nem o sardinheiro
o padeiro
muito menos o leiteiro
a não ser as bicharadas
quando se teme trovoadas
as fará estremecer
apenas restará o chão
afirma um aldeão.
Regressei…
nem pensei
ver os rios poluídos
já não existem enguias
nem azevias
os vinhedos uns matagais
as avezinhas coitadinhas
aos gritos
o calor ser demais
invernos rígidos
na terra que amei
ali regressei…
e, nem pensei
ser triste
já não existe
avé- marias
nem alegrias
quase não há religião
quem o diz é um aldeão.
Já não se anda a pé
nem o Ti-Chico nem o Ti-Zé
que possuíam jumentos
agora outros ventos
ainda há quem prometa
na voz dalgum profeta
vamos voltar ao antigo
não contem comigo
diz um aldeão
lá terá razão
que tudo se perdeu
ele que está no Céu.
-º-
Naquele cabeço
que bem conheço
ainda existe Fé
por não haver Sé
não deixa de amar a Deus
ao ver com os olhos meus
o quanto mantenho a saudade
comungar na humildade
na dor, no amor no carinho
tudo possui um caminho
haverá alguma razão
diz um aldeão
que Deus já tem
que algo virá por bem.
                                           josé penalva
[Imagem: VagaMundos]

Veja Também:

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments