A Parpública – sociedade gestora de participações sociais do Estado Português, de capitais exclusivamente públicos, aguarda que o novo Governo entre em funções para vender o Autódromo do Estoril.
A forma encontrada é um concurso público internacional.
Cascais quase que comprava
O Autódromo Fernanda Pires da Silva esteve quase a ser vendido à Câmara Municipal de Cascais, em 2015, por 4,92 milhões de euros, mas o Tribunal de Contas anulou o contrato.
O autódromo desenvolve atividades exclusivamente comerciais e a sua aquisição pelo Município de Cascais não salvaguardava o interesse dos munícipes daquele Concelho.
A Parpública chegou a considerar a sua concessão a alguma entidade que o explorasse, mas a nova administração prefere vender.
Portugueses e estrangeiros interessados, pista é para manter
Segundo declarações de Carlos Carreiras, presidente da Câmara municipal de Cascais, à comunicação social, a empresa Circuito do Estoril S.A. (que gere o autódromo) está avaliada abaixo dos 10 milhões de euros, que o próprio considera “um valor muito baixo”.
Ainda segundo este autarca, que existem três grupos interessados em investir, dos quais dois são totalmente portugueses, e um consórcio é formado por empresas portuguesas e estrangeiras.
O Município de Cascais já fez saber que se iria opor à venda do autódromo caso o objetivo fosse dar lugar a projetos imobiliários.
A Parpública garantiu que a pista do Circuito do Estoril é para manter.
No Estado desde 1997
O Autódromo do Estoril entrou na esfera pública em 1997, depois da Grão-Pará, a empresa que o geria, ter cedido 51% das ações deste ao Governo, na altura liderado por António Guterres.
O objetivo era conseguir regularizar as dívidas estimadas em 20 milhões de contos (100 milhões de euros) ao Fisco, Segurança Social, Tesouro e Fundo de Turismo.
Em 2002, a Grão-Pará cedeu os restantes 49% à Caixa-Geral de Depósitos (CGD) como forma de saldar dívidas que ultrapassavam os 10 milhões de euros.
A CGD entendeu não estar vocacionada para este negócio e o então ministro das Finanças, Oliveira Martins, deu ordens à Parpública para adquirir este capital entregue pela Grão-Pará à Caixa, a troco de 17,4 milhões de euros.
A Circuito do Estoril S.A. tem hoje um passivo de 3,2 milhões de euros, estimando-se que o Estado tenha investido mais de 68 milhões de euros no autódromo, entre 1997 e 2016.
Fórmula 1 de 1984 a 1996 e o CascaiShopping
Foi em 1984 que a Fórmula 1 chegou ao autódromo do Estoril, a 21 de outubro depois dos sucessos da Boavista (Porto) e Monsanto (Lisboa) nas décadas de 50 e 60, do século passado.
No último Grande Prémio da temporada, o francês Alain Prost foi o vencedor da prova.
Na temporada seguinte, a corrida foi disputada a 21 de abril e com condições atmosféricas adversas, beneficiando Ayrton Senna, um especialista em corridas na chuva.
A partir de 1986, a corrida passou a ser disputada na penúltima semana do mês de setembro, terminando esta era a 22 de setembro de 1996, com o canadiano Jacques Villeneuve, da equipa Williams, a vencer.
Eram necessárias obras de melhoria do circuito, que não ficaram prontas em 1997 e, portanto, o circuito do Estoril ficou fora do calendário da Fórmula 1.
Para além de ter acolhido o Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1 entre 1984 e 1996, o Autódromo do Estoril atualmente acolhe outros tipos de eventos para além dos desportivos, como as apresentações das marcas Porsche, Honda, Toyota e BMW.
Durante os Grandes prémios de Fórmula 1 e nos treinos que aconteciam entre março e abril, já que o Estoril era escolhido pelas suas boas condições climatéricas para o teste de bólides e pilotos, era frequente a presença de público da região.
A meio deste período (1984-1996) é inaugurado o vizinho CascaiShopping, a 15 de maio de 1991, e estas deslocações ao Autódromo passaram a ser complementadas com uma visita ao shopping.
Fernanda Pires da Silva deu nome ao Autódromo
Fernanda Pires da Silva foi a fundadora e presidente do grupo Grão Pará, um conglomerado que negociava no imobiliário, turismo, gestão de hotéis e indústria de mármores.
Fernanda teve o seu primeiro filho Abel em Lisboa, em 1946 e em 1950, com Abel de quatro anos, partiu para o Brasil onde fundou o Grupo Grão Pará.
Foi presidente deste Grupo e construiu exclusivamente com capitais próprios o Autódromo do Estoril.
O circuito foi construído no ano de 1972, num planalto próximo do Estoril, desenhado pelo arquiteto brasileiro Ayrton Lolô Cornelsen, em terrenos adquiridos ao amigo Lúcio Tomé Feteira.
Como homenagem pela obra e reconhecimento pelo desenvolvimento do desporto automóvel português, o Autódromo recebeu o seu nome, Fernanda Pires da Silva.
Morreu em 2020, aos 93 anos, no Rio de Janeiro, Brasil.
[Fonte e imagens: Parpública, Público, Município de Cascais, wikipédia]