O Clube do Mato surgiu há 25 anos em Rio Maior, comemorou o aniversário neste passado sábado, e Região de Rio Maior (RRM) foi ao encontro de Cremilde Graça (CG), a presidente da direção.
Cremilde Graça é de Pelmá (Alvaiázere), vive em Rio Maior, é consultora de projeto numa empresa de revestimentos e desde novembro de 2022 dirige o Clube do Mato, até 2025.
RRM: O Clube fez 25 anos de existência, são muitos os seus sócios e os fundadores ainda estão no Clube?
CG: É com muito gosto que verificamos que uma boa parte dos fundadores ainda fazem parte do Clube do Mato, tanto enquanto sócios como fazendo parte dos corpos sociais, e que são também vários os sócios que nos acompanham há já vários anos.
Creio que é o espelho do bom ambiente que se vive dentro do clube, das várias amizades que foram criadas entre todos aos longo dos anos, e é também um sinal de que o Clube do Mato continua vivo e ainda com muito caminho para percorrer.
“A preocupação com a natureza faz parte do nosso ADN”
RRM: Surgiu também com uma preocupação “ecológica” e “ambiental”, mantêm esse registo?
CG: Sem dúvida. Somos uma associação ambiental de promoção de atividades de ar livre sem fins lucrativos e a preocupação com a natureza faz parte do nosso ADN.
Este ano já realizámos uma atividade de monitorização de aves costeiras na zona da Nazaré, em parceria com a Universidade de Coimbra, uma atividade de reflorestação da Serra da Estrela, em parceria com a Associação Cultural dos Amigos da Serra da Estrela, e em Setembro temos prevista uma atividade de limpeza nas Berlengas.
Num passado muito recente, estivemos integrados em campanhas de limpeza em matas, praias, plantação de Pinheiros na reflorestação do Pinhal do Rei – Leiria. É nosso intuito continuar a incluir atividades de sensibilização ecológica e ambiental na nossa programação pois se queremos usufruir da nossa natureza temos primeiro que tudo cuidar devidamente dela.
“Continuamos a assistir diariamente a comportamentos que vão contra tudo aquilo que deveria ser feito”
RRM: Quais são os principais desafios em termos de intervenção ambiental que hoje se põem, no Portugal e no Rio Maior de hoje?
CG: Creio que o principal desafio é transversal ao país, e indiferente às fronteiras concelhias ou distritais, e diz respeito a uma verdadeira sensibilização e consciencialização de todos para a importância da preservação da natureza.
São quase diárias as notícias acerca das alterações climáticas, da cada vez maior frequência de fenómenos climáticos extremos, mas infelizmente continuamos a assistir diariamente a comportamentos que vão contra tudo aquilo que deveria ser feito para preservarmos o meio ambiente e não colocarmos em risco o futuro deste mundo em que vivemos e, consequentemente, da nossa espécie.
Apesar de existirem já muitas campanhas de sensibilização acredito que há ainda um longo caminho a percorrer para conseguirmos alcançar uma verdadeira consciencialização geral da sociedade portuguesa para a importância da conservação do nosso meio ambiente e vermos uma real mudança na atitude de todos nós.
Nas atividades só ficam pegadas e fotos!
RRM: Desenvolve atividades de natureza. Esta prática vai mais num caminho de lazer, e até turismo? Como cruzam aqui estas preocupações com o ambiente?
CG: Desenvolvemos vários tipos de atividades desde palestras, workshops, atividades desportivas, de lazer ou de voluntariado, de forma a podermos apresentar um calendário de atividades variado e que vá de encontro às preferências dos nossos associados.
O ambiente e a natureza são parte integral de praticamente todas as atividades, senão mesmo todas, quer o palco das atividades seja a floresta/rios/mar/montanhas ou sejam elas ou as atividades que nelas se possam praticar o tema das palestras e workshops que realizamos.
Tentamos incutir nos nossos sócios as devidas preocupações com o meio ambiente e o respeito pela natureza, para que possamos usufruir da mesma a 100% e a deixemos tal e qual como a encontrámos ou gostaríamos de encontrar, os nossos associados estão já sensibilizados para a preservação do ambiente, inclusive, quando é necessário, colhemos o lixo que vamos encontrando nos trilhos percorridos, todos sabemos que nas nossas atividades só deixamos pegadas e colhemos fotos!
O aumento da participação da população, é um desafio
RRM: Quais os principais obstáculos que identifica na vossa ação e nas atividades?
E o rio Maior?
CG: Sem dúvida. Esse tema foi já discutido em direções anteriores e reuniões de planeamento das atividades anuais e o interesse na realização de atividades tendo como foco o Rio Maior é consensual na atual direção. Falamos desde atividades de limpeza e conservação do rio, bem como de atividades desportivas e de lazer no próprio rio em si, sempre dependendo da altura do ano e do respetivo caudal obviamente.
Esperamos conseguir reunir as condições necessárias para incluirmos o rio Maior na lista de atividades para 2024 e, se assim for, tudo faremos para cativar a população Riomaiorense a participar nesta iniciativa pois todos temos o interesse em manter este nosso rio nas melhores condições possíveis para dele podermos usufruir na sua plenitude.
Da canoagem à descoberta dos cogumelos
RRM: Qual é o vosso plano de atividades para este verão, e para o ano?
CG: Ainda neste mês de Julho teremos a atividade “Canoagem à Descoberta do Tejo” em Valada do Ribatejo e faremos uma pausa em Agosto pois como sabemos é um mês onde muitas pessoas estão de férias.
Retomamos a época em Setembro com a “Travessia do Algarve em BTT” e a atividade ambiental de Limpeza da Ilha Berlenga. Em Outubro teremos uma atividade de Canyoning no Rio Frades e a caminhada “Percurso dos Bugalhos” em Alcanena.
A nossa época de atividades terminará em Novembro com o trail “Terras de Sal e Serra” em Rio Maior e a atividade “À Descoberta dos Cogumelos Silvestres” ainda com local a designar.
A planificação das atividades de 2024 será feita nos últimos meses deste ano, mas é nossa ambição apresentar um cartaz tão bom ou melhor que o de 2023, sempre indo ao interesse daquilo que são os interesses e gostos dos nossos sócios.
“As associações existem para as suas comunidades e sem a participação das comunidades estarão destinadas à extinção”
RRM: Que mensagem deixa após 25 anos de Clube (e de associativismo) para outras Associações e para a Comunidade onde se inserem?
CG: Creio que a mensagem para as outras associações locais é sobretudo uma mensagem de resiliência e de admiração pelo que alguns continuam a fazer, muitas vezes por mera “carolice”, para o interesse e bem da comunidade onde se inserem.
Sabemos que os tempos áureos do associativismo já lá vão, que a vida mudou bastante em relação aquilo que era há alguns anos atrás, portanto é de louvar todos aqueles que mesmo assim estão dispostos a dar um pouco, ou até mesmo bastante, do seu tempo pessoal em prol de uma associação ou coletividade, seja ela desportiva, recreativa, cultural etc.
E, que desse trabalho irão beneficiar todos aqueles que vivem nessa aldeia, freguesia ou concelho.
Para a comunidade deixo uma palavra de apreço por aqueles que valorizam o trabalho realizado pelas associações e que contribuem para a sobrevivência das mesmas, esperando que haja um aumento da participação de todos na vida e nas iniciativas das suas associações, pois as associações existem para as suas comunidades e sem a participação das comunidades estarão destinadas à extinção.
[imagens: Clube do Mato e Cremilde Graça]