Renato Pinto, de Rio Maior, integra a Seleção Nacional de Footgolf que se sagrou Campeã da Liga Ibérica de Footgolf, ao vencer a Seleção espanhola por 3 – 0.
Esta, que foi a 2ª Edição da Liga Ibérica, dá a desforra a Portugal que no ano passado havia perdido por 3 – 1, e onde Renato Pinto ficou classificado em 3º lugar de jogadores.
Este ano a Liga aconteceu nos dias 16 e 17 de setembro no Castro Marim Golfe & Country Club, no Algarve, tendo Portugal conquistado ainda 2 vitórias a título individual, através de Luiz Santana, na categoria Masculino, e Alex Marau, na categoria Sénior.
Renato Pinto integrou assim pela 1ª vez a Seleção Nacional, nesta modalidade ainda pouco conhecida mas onde tem vindo a acumular palmarés.
O Footgolf, ou também Futegolf, Futgolf ou ainda Futegolfe, é um desporto de precisão, no qual os jogadores pontapeiam uma bola de futebol num campo de golf, iniciando no tee e até que esta caia num buraco no solo e tentando fazê-lo num número mínimo de toques, tal como no golfe. O nome do desporto é uma junção das palavras “futebol” e “golf”.
No mundo, houve várias iniciativas de criar o footgolf, mas foi na Espanha que em 1984, Manuel Belmonte Luque, registou o termo num Clube e deu “um pontapé de saída” na modalidade.
Em Portugal, o footgolf é jogado pela primeira vez, em fevereiro de 2013, num torneio com cerca de 60 praticantes, na Quinta da Marinha. A modalidade foi trazida para Portugal pela francesa Marie Odile Antonelli.
Um Campeão Ibérico de footgolf em Grande Entrevista
Renato Pinto (RP), 57 anos, de Rio Maior, é jogador de footgolf há vários anos, sagra-se agora Campeão Ibérico, com a Seleção Nacional que integrou, e o Região de Rio Maior (RRM) quis saber mais e foi ao seu encontro para uma Grande Entrevista.
RRM: Campeão Ibérico, pela Seleção Portuguesa, de footgolf. O que é que é footgolf?
RP: É uma prática desportiva que está em Portugal há 7-8 anos, praticada em campo de golf, com as mesmas regras do golf, onde se usa uma bola de futebol e onde se usa o pé e não um taco, percorrendo as distâncias no campo como no golfe e desde o par 3 (mínimo) e o par 5 (máximo) [o número de pontapés que se pode dar na bola], tentando dar os menos chutos possível, tal como nas tacadas do golf.
Está organizado em escalões, que vão do Júnior, Feminino, Sénior, + 45 anos, + 55 anos, que é onde eu jogo.
RRM: Tal como no golf têm a vossa pontuação individual, o handicap, e que classifica no ranking geral entre jogadores?
RP: Isso mesmo. É uma competição individual e nós quando vamos jogar, em 90% das vezes joga-se com 4 jogadores, que se fiscalizam uns aos outros, nos chutos que dão, não havendo árbitros de fora.
Usamos uma aplicação, a G-Score, que nos dá em tempo real a posição no ranking dos cerca de 120 jogadores nacionais que lá constam.
RRM: Percorrem os 18 buracos de um campo de golf no mesmo tempo do golf… 3 horas, mais ou menos?
RP: Sim. São entre 2 a 3 horas cada jogo.
RRM: E o campo de golf tem buracos da dimensão da bola de futebol… como funciona?
RP: Há campos já preparados para isso e com buracos desse tamanho. Não há muitos campos em Portugal preparados para isto, são só 7 ou 8, onde Amarante, Viseu, Torres Vedras, Samora Correia, Benavente, Castro Marim e Portimão, são exemplos. Mas há mais, de privados.
Como está Portugal e a Federação nesta modalidade?
RRM: O footgolf joga-se em todo o mundo, qual é a posição de Portugal nesta modalidade?
RP: Portugal esteve agora, em junho, no Campeonato do Mundo em Orlando, Estados Unidos. Teve uma prestação razoável, para a 1ª vez que participou, ficando a meio da tabela, mas com cerca de 1000 atletas a jogar, com o Campeão Nacional Pedro Brito, de Évora, a ficar nos primeiros 20 lugares.
RRM: Onde está a sede da Federação Portuguesa de Footgolf e quantos praticantes tem em Portugal?
RP: Neste momento somos cerca de 500 sócios, mas praticantes serão aí uns 200, entre homens e mulheres (cerca de 50 mulheres). A sede é em Lisboa.
De Infantil na União a árbitro de futebol, de tudo um pouco
RRM: O Renato foi fiscal de linha do árbitro António Rôla (de Rio Maior), jogou xadrez – foi Campeão Distrital de Júniores, jogou hóquei em patins, futsal, padel … como veio parar a uma modalidade destas?
RP: Eu adoro qualquer atividade desportiva. Comecei nos Infantis da União Desportiva de Rio Maior, passei os escalões todos e quando subo a Sénior estava o Rio Maior na 3ª Divisão.
O António Rôla convida-me para tirar o curso de árbitro. Fui depois à tropa, e quando acabo vou para fiscal de linha dele e faço a 2ª Divisão com ele. Subimos nesse ano à 1ª Divisão Nacional.
Por vários motivos não gostei do mundo do futebol e deixei a arbitragem. Vim jogar na equipa de Veteranos, durante 6 anos. Era a coisa mais linda que podia haver: o desporto e o convívio…
A pandemia veio interromper isto e o Rúben Vitorino, da Moçarria, apresentou-me o footgolf que ele já jogava, disse-me: “um dia vais comigo e vais adorar aquilo”.
Só fui uma vez e fiquei logo viciado. É muito aliciante e para quem gosta de futebol é um desporto que encaixa muito bem. Para a idade é maravilhoso… desde logo não há embate físico e cada um joga por si.
Renato Pinto ao centro, no Portugal Open 2022
Técnica e ciência, com muitos jogadores, mas ainda à procura de reconhecimento
RRM: Mas aqui no footgolf é exigida técnica e ciência, calcular distâncias, o arco da bola, o vento… é mais exigente que um remate no campo de futebol?
RP: Tem os mesmos moldes da perfeição do futebol. Dá-se muito valor a um avançado quando consegue meter a bola na baliza em ângulos difíceis. O footgolf usa essa ciência. È muito teórico. Antes de chutar a bola temos de pensar em várias situações: o vento, a bola passar entre os bancos de areia, subir o monte, a curva do green, ficar o mais perto do buraco possível (se não entrar…), com o mínimo de chutos possível…
RRM: Como é que aparece na Seleção Nacional, foi o handicap (a pontuação individual face aos outros jogadores)?
RP: Sim. Fiquei muito feliz e tive muito orgulho de vestir uma camisola de uma Seleção Nacional.
Mas também já fui Campeão pela Equipa do Cruz de Cristo, de Santarém. Já joguei no Vitória de Santarém e agora jogo no Caxarias (Ourém). Já há histórico antes de chegar aqui.
RRM: Esta Federação (Portuguesa de Footgolf) tem apoios do Estado como qualquer outra Federação e é reconhecida como tal?
RP: Por enquanto ainda não. Temos poucos sócios (Renato é o nº 147) e ainda vai demorar algum tempo. Tem de haver mais divulgação, motivação e aderência à modalidade para criar outra expectativa. Mas lá chegará o dia.
RRM: O footgolf têm Épocas Desportivas… como funciona o calendário?
RP: Jogamos quase todo o ano. Desde fevereiro até dezembro temos Campeonato Nacional, a Taça de Portugal, Ligas Ibéricas, o Campeonato do Mundo, os Match Play (2 jogadores que competem contra outros 2), Torneios Individuais… há muitas competições durante o ano inteiro.
RRM: Qual é o próximo desafio?
RP: Quero fazer melhor que no último Open de Portugal. Os Opens são os melhores Torneios, em cada País, onde os melhores jogadores do mundo se deslocam a qualquer País para jogar.
Temos agora o Open Nacional nos dias 6, 7 e 8 de outubro, na campo de golf de Viseu, e vai ser um Major 1000. Todos os jogadores a nível mundial e que competem para o Campeonato do Mundo, tentam vir a estes Torneios para ganharem pontos.
Há dinheiro para os primeiros classificados como atrativo para os jogadores participem.
O Open de Portugal já tem neste momento 250 jogadores inscritos. Se os portugueses são cerca de 120, quer dizer que mais de metade já vêm de fora, e de vários cantos do mundo (Argentina, Alemanha, Inglaterra, Irlanda, Eslovénia, Espanha, Itália…).
Eu, por exemplo, estive em agosto no Classic Suiço, na Suiça, onde tive o privilégio de jogar com os melhores do mundo e vamos sempre apendendo a melhorar o nosso jogo.
E a ideia de Rio Maior ter um campo de golf e footgolf?
“Era muito válida e de louvar. Era uma muito boa solução. Quem sabe se aqui em Rio Maior não nascia logo um Clube? Há muitos jogadores potenciais e Rio Maior pode ter uma palavra a dizer neste jogo.”
RRM: Qual é o campo mais próximo de Rio Maior onde se pode praticar footgolf?
RP: Aqui mais próximo é Torres Vedras, depois em Santo Estevão – Benavente e Samora Correia. Em Caxarias – Ourém, onde eu jogo e treino mais, é privado.
RRM: Aqui no concelho temos o Golden Eagle, que tem agora novos investidores e que o estão a reabilitar, acha que era uma boa solução para esta modalidade?
RP: Era muito válida e de louvar. Era uma muito boa solução. Quem sabe se aqui em Rio Maior não nascia logo um Clube? Há muitos jogadores potenciais e Rio Maior pode ter uma palavra a dizer neste jogo. Há muitos jogadores na área de Lisboa, por exemplo, que hoje se deslocam pata Torres Vedras e Samora Correia. Rio Maior ter esta oferta, era muito bom e tinha jogadores.
Neste momento, Rio Maior tem oficialmente 3 jogadores.
RRM: O Renato trabalha numa conhecida empresa de obras públicas de Rio Maior, há tempo para tudo?
RP: É tudo uma questão de organização e conciliação, fazer horários. Tem de haver tempo para tudo.
RRM: E os joelhos… não acusam desgaste?
RP: Parar é morrer, não podemos perder mobilidade. Se a perdermos é muito difícil depois recuperar. No limite fazem-se caminhadas, cada um na sua velocidade, vai-se para o ginásio… é preciso atrasar o que pudermos nos problemas de saúde, e o movimento é muito importante.
Um dia um amigo disse-lhe:
“tu jogas futebol de salão, precisamos de um guarda-redes no hóquei em patins, tens de lá ir desenrascar a equipa.
Mas eu não sei andar de patins…?
Não faz mal nenhum. Aprendes rápido e não te mexes muito do sítio.
Fui aprender a andar de patins, aprendi, joguei hóquei e ainda hoje adoro andar de patins e ainda lá estive 6 meses a guarda-redes para os desenrascar”.
[Imagens: RRM, FPFootgolf, CCD Caxarias]