O CENTENÁRIO DA ESCOLA COMERCIAL

     

O Centenário da Escola Comercial

[por Rui Andrade]

Perfazem-se neste ano de 1924, cem anos  que, em Rio Maior, foi criada a Escola Comercial, por iniciativa de um grupo de honrados cidadãos, que solicitaram  à Câmara Municipal a sua nomeação  de professores desse estabelecimento de ensino que iria iniciar a sua actividade, sem nada exigirem do erário público.

Há que nos situarmos no tempo em que tal facto ocorreu e concluirmos quão importante foi a iniciativa desenvolvida por esses ilustres antepassados e quanto lhe devemos.

A comunidade riomaiorense  da  actualidade  tem o dever de recordar e estar grata a esses generosos beneméritos que nada pediram e muito deram para o engrandecimento de Rio Maior de1924 e tempos posteriores, tendo ainda em conta a circunstância de que nenhum deles era natural de Rio Maior, razão pela qual o nosso apreço  dever ser maior ainda.

Refiro-me obviamente aos doutores Francisco Maria da Cunha e Souto, Cristiano Victor Leite da Cruz e Augusto César da  Silva Ferreira e Engº Henrique Guilherme de Oliveira, os quatro cidadãos que deram o pontapé de saída para a criação dessa importante instituição que foi a Escola Comercial.

Como cidadão de Rio Maior, que aqui nasci e onde tenho residido quase toda a vida, sinto-me devedor a esses ilustres cidadãos de uma grande admiração e muita gratidão.

Pessoalmente nunca fui aluno da Escola Comercial, pois após ter concluído a instrução primária e ter feito a admissão aos liceus, frequentei o Externato Riomaiorense, estabelecimento de ensino fundado pelo Dr. Augusto Pedro Branco na década de 5O, que habilitava para o ensino liceal.

A gratidão que sinto pelos fundadores da Escola advém do facto de, em 1924, ano da sua fundação, além dos 12 alunos (rapazes) haver uma única aluna, uma rapariga que mais tarde, haveria de ser minha mãe.

Ao tempo, as mulheres estavam  talhadas para aprender a cozinhar e outras actividades domésticas, que não para estudar. Ir estudar  para a Escola acabada de surgir, foi uma atitude  muito avançada nesse tempo.

Felizmente que, nos anos seguintes, outras raparigas lhe seguiram o exemplo e vieram a matricular-se na Escola, conforme  estudo efectuado há anos atrás pela minha amiga Maria Júlia Figueiredo, que às causas de Rio Maior tem dedicado a sua atenção como se fora a sua terra e por  isso merece a nossa gratidão.

Tive oportunidade de conhecer alguns dos fundadores da Escola Comercial: o Henrique Guilherme de Oliveira, Engº electricista, com quem tive relacionamento de grande proximidade, já que anos mais tarde veio a casar, em segundas núpcias dele, com uma tia minha, irmã de minha mãe.

Creio ser o único  dos fundadores da Escola que tem descendência em Rio Maior, um seu bisneto – José Rui Costa e Silva, que desenvolve  a sua actividade  profissional nas piscinas municipais de Rio Maior.

Num dia, muito longínquo, na companhia de minha mãe, na que era a praia dos riomaiorenses – a Nazaré –  tive o gosto de conhecer o Dr. Cristiano Cruz, na altura de vetusta idade, um dos outros fundadores da Escola Comercial, que havia sido professor de minha mãe.

A propósito deste senhor, uma pequena curiosidade: era sobrinho do venerando Padre Cruz, da Companhia de Jesus, que foi em tempos, professor de Filosofia no Seminário de Santarém e chegou a ser a pessoa mais venerada neste País.

Referir o facto de ser natural de  Rio Maior o actual Director da Escola Secundária Dr. Augusto César da Silva Ferreira [José Albino Frazão Correia] e recordar também que  seu pai foi nos anos trinta do século XX aluno da Escola Comercial, beneficiário portanto desse importante legado.

Rio Maior, que hoje conhecemos, seria muito diferente, para pior, se não tivesse existido a Escola Comercial, que veio proporcionar a centenas, talvez milhares de alunos, outras perspectivas de vida e dar à terra um maior desenvolvimento em muitos sectores.

Certamente que, em devido tempo, Rio Maior saberá prestar o devido agradecimento não só aos Fundadores, mas também àqueles que ao longo dos tempos lhe deram continuidade.

[Rui Andrade, Diretor deste Jornal, escreve na versão anterior ao Acordo Ortográfico]

[Imagens: Cidadania RM]

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