Zero graus, zero respostas
Manhã fria (o termómetro media 0ºC) em frente à Escola Secundária Augusto César da Silva Ferreira (ESACSF), em Rio Maior, mas não fria o suficiente para desmobilizar cerca de 40 professores que dão corpo a mais um dia de luta.
De mãos dadas frente à entrada principal da Escola afirmam deixar o protesto “quando o Ministério nos ouvir”.
À pergunta se estão satisfeitos com o que o ministro da educação, João Costa, já anunciou até ao momento, respondem: “ele ainda não disse nada”.
Uma referência às medidas propostas que, até ao momento, são o anúncio do que já está em vigor e onde é preciso ir mais além, muito mais do que a simples progressão da carreira e salários.
“Os professores são os pedreiros do mundo”
Luciano Vitorino (LV), professor daquela Escola (e que já foi Diretor da Escola Profissional de Rio Maior), falou pelos professores:
RRM: Quando é que saem da rua?
LV: Quando este Ministério decidir ouvir-nos.
Ouvi uma frase que ilustra o quão nobre é a nossa profissão (numa crónica do Jornal Público) e que dizia que “os professores são os pedreiros do mundo”. Frase brutal que encaixa naquilo que os sucessivos Governos dizem da educação, que a educação é uma paixão, e que se fosse assim casava bem com esta frase. Mas não tem sido.
RRM: Nada do que o primeiro-ministro e o ministro da educação têm anunciado vos satisfaz?
LV: Eles não nos disseram nada de novo. O que disseram é o que já existe. O que estão a fazer é puxar a opinião pública (tal como em 2008) para o seu lado e tentar isolar os professores. Mas não vamos deixar que isso aconteça.
RRM: O que teria de acontecer amanhã para saírem aqui do frio?
LV: Passarmos a ser devidamente valorizados e respeitados. Esta luta não é só de escalões e progressão da carreira, é muito mais do que isso.
Estamos extremamente cansados. Cansados de burocracias onde nos pedem para inovar… isto não é só salário, carreira e a recuperação do tempo perdido. Mas se há tanto dinheiro para tanta coisa neste País porque não há para uma função básica dos tais pedreiros que formam as pessoas do amanhã?
Os professores foram atolados em papeis, trabalham extra-horário aos fins de semana, nos dias à noite e não lhes sobra tempo suficiente para cumprirem a sua missão: educar e formar os alunos.
Sindicatos têm de convergir mais
RRM: Os Sindicatos estão aqui convosco ou, de novo, é um movimento espontâneo?
LV: Esta luta é bonita porque é desprendida de sindicatos e partidos. Nenhum destes colegas que aqui está agora é sindicalizado, por exemplo.
Aliás, todas as Escolas de Rio Maior têm falado entre si e reunido, somos mais de 200 professores que estamos lado-a-lado neste movimento e decidimos por nós, por sermos professores e não outra coisa.
RRM: E tem surtido efeito?
LV: Sentimos que tem de haver uma predisposição para atenderem às nossas questões e percebemos que não pode ser de um dia para o outro, aliás, faseadamente já houve alguma reposição do tempo que nos foi tirado, mas temos de ser atendidos e falta muito mais. Ainda não estamos a chegar lá.
RRM: Que ações futuras têm previstas? Ficam por este tipo de protesto ou há mais…?
LV: Escrevemos ao Governo, e avisamos os Sindicatos que esta luta deveria ser uma ação global de todos os professores e não uma luta espartilhada com alguns sindicatos a marcarem dias próprios e separados.
Tem de haver uma união a nível nacional e os sindicatos deveriam estar mais unidos.
Para já há uma grande “convergência de sindicatos”, mas não pode haver um ou outro que está de fora e tem agenda própria. Isso não dá força à “nossa luta”.
Dia 1 de fevereiro há uma mobilização distrital onde vamos participar na greve geral e estaremos sempre dispostos a vir para a rua e dialogar, até nos ouvirem.
Para já, negativa a ação do ministério da educação, quase negativa a temperatura, positiva a vontade de protesto dos professores para se fazerem ouvir.